quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Frase do dia

 "Ler significa preparar-se para capturar uma voz que vai surgir quando você menos espera. Uma voz que se deixa ouvir de um lugar inesperado, para além do livro, além do autor, além da escrita: ela vem do que foi dito, daquilo que o mundo ainda não fez a si mesmo porque ele não tinha palavras para dizê-lo."

Italo Calvino (1923 - 1985)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Folclore - Língua do Pê

Regras da língua do pê: em primeiro lugar, divide-se cada palavra em sílabas. Cada sílaba será repetida substituindo-se cada consoante por "p". As vogais serão repetidas na nova sílaba criada. Os acentos deverão ser sempre mantidos, inclusive o til. Ex: Vamos embora porque já é tarde, fica: Vapamospos empemboporapá porporquepê japá epé tarpardepê. Pode-se optar, eventualmente, por não repetir certas consoantes, mantendo-as somente na sílaba com "p". Usando o mesmo exemplo, ficaria: Vapamopos epemboporapá poporquepê japá epé tapardepê. Neste caso, foram excluídos o "s" de vamos, o "m" de embora, o "r" de porque e o "r" de tarde. Pode-se também excluir a segunda consoante em sílabas com "pr", "tr", "bl" e outras. Desse jeito, a palavra problema ficaria poprobeplemapá, em vez de proprobleplemapá, tendo, assim sua pronúncia facilitada.


Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Folclore - Adivinhas

1.
O que é, o que é
É perigosa de armar
Sempre é melhor não entrar
Ninguém gosta de perder
Todo mundo quer ganhar?

2.
O que é, o que é:
São sempre grandes amigos
Passam o dia se batendo
Mas não fazem mal aos outros
Embora vivam mordendo?

3.
O que é, o que é:
São luzes mas não têm fio
São quietas e agitadas
Se dormem durante o dia
A noite passam acordadas?

4. 
O que é, o que é:
Minha vida é um pesadelo
Já não sei nem o que eu faço
Pois quem mais chora por mim
É quem me corta em pedaços?

5.
O que é, o que é:
É água  e não vem do mar
Nem na terra não nasceu
Do céu ela não caiu
Todo mundo já lambeu?


Respostas:
1.briga
2. dentes
3. estrelas
4. cebola
5. lágrima

Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

sábado, 25 de agosto de 2012

Folclore - Receitas

 Pão de Queijo
copos de queijo curado ralado
2 copos  de polvilho doce peneirado
2 ovos inteiros
sal à vontade 
leite até ficar no ponto de enrolar

Amasse tudo muito bem. Unte a mão com óleo e faça as bolinhas, colocando numa assadeira. Leve ao forno médio por uns 20 a 25 minutos até que os pãezinhos fiquem corados.




Rapadurinha cheirosa

1 lata de leite condensado
1 xícara (de  chá) de açúcar
1 colher (de sopa) de margarina
1 colher (de chá) de canela em pó

Misture os ingredientes numa panela e leve ao fogo baixo, mexendo sempre até desprender do fundo. Retire do fogo e bata por aproximadamente 5 minutos ou até a massa ficar opaca. Despeje sobre o mármore ou inox untado com margarina e passe o rolo ou uma garrafa para alisar a superfície. Depois de frio, corte em quadradinhos ou losangos. 

Maria-mole

2 pacotes de gelatina sem sabor
2 copos de água morna
2 copos de açúcar
coco ralado
gotas de baunilha

Desmanche a gelatina na água  morna sem levar ao fogo. Junte o açúcar e a baunilha, bata por uns 20 minutos na batedeira. Despeje num pirex, cubra com o coco ralado e ponha para gelar. Depois é só cortar em quadradinhos e está pronto.


Pé-de-moleque

1 lata de leite condensado
1 xícara (de chá) de açúcar
1 xícara (de chá) de leite
1 xícara (de chá) de amendoim torrado e sem pele

Leve ao fogo o leite condensado, o açúcar, o leite e mexa sempre, até dar o ponto de doce de leite macio (mais ou menos 20 minutos em fogo médio). Experimente o ponto colocando um pouco num pires: remexendo com um garfo, a massa do doce ficará opaca. Misture o amendoim, retire do fogo e bata o pé-de-moleque até ficar opaco. Despeje em pia de mármore ou inox bem untada, iguale com a faca ou rolo e corte em losangos.


Cocadinha

1 lata de leite condensado
2 vezes a mesma medida (a lata) de açúcar
2 pacotes de 100 gr de coco ralado desidratado
1 colher (de sopa) de margarina

Junte todo os ingredientes numa panela e leve ao fogo baixo, mexendo sempre até aparecer o fundo da panela e ficar bem solto do fundo. Despeje a massa em pia de mármore ou inox untada com margarina, corte-a em quadrados enquanto ainda estiver morna e deixe esfriar.

Curau

6 espigas de milho verde
1 litro de leite (ou água)
1 1/2 xícara (de chá) de açúcar
1 colher (de sopa) de manteiga
canela em pó para enfeitar

Tire o milho da espiga com uma faca, misture com parte do leite e bata no liquidificador. Depois passe esta mistura por uma peneira, sobre uma panela, espremendo bem com a colher e pondo aos poucos o resto do leite até sobrar só o bagaço do milho. Junte então o açúcar e a manteiga e leve ao fogo, nem muito forte nem muito fraco, mexendo sempre. Quando virar um mingau grosso, pode desligar. Ainda quente, despeje em travessa molhada e polvilhe com a canela. Espere esfriar.

Paçoca

1/2 quilo de amendoim torrado e moído bem fino (no liquidificador)
3 xícaras (de chá) rasas de farinha láctea
6 colheres (de sopa) de açúcar

Misture bem os ingredientes, formando a paçoca. Sirva em saquinhos de papel.


Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Folclore - O sapo não lava o pé

O sapo não lava o pé

O sapo não lava o pé
O sapo não lava o pé
O sapo não lava o pé
Não lava o pé
Porque não quer!

A sapa na lava a pa
A sapa na lava a pa
A sapa na lava a pa
Na lava a pa
Parca na ca!

E sepe ne leve e pe
E sepe ne leve e pe
E sepe ne leve e pe
Ne leve e pe
Perque ne que!

I sipi ni livi i pi
I sipi ni livi i pi
I sipi ni livi i pi
Ni livi i pi
Pirqui ni qui!

O sopo no lovo o po
O sopo no lovo o po
O sopo no lovo o po
No lovo o po
Porco no co!

U supu nu luvu u pu
U supu nu luvu u pu
U supu nu luvu u pu
Nu luvu u pu
Purcu nu cu!

  
Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Folclore : Trava-línguas




 O trava-língua é uma brincadeira com as palavras, onde quem consegue falar rápido e sem se enrolar ganha. Alguns trava-línguas:

Não tem truque, troque o trinco, traga o troco e tire o trapo do prato.
 Tire o trinco, não tem truque, troque o troco e traga o trapo do prato.


Num ninho de mafagafos
Tinha seis mafagafinhos
Também tinha magafaças,
maçagafas, maçafinhos,
mafafagos, magaçafas,
maçafagas, magafinhos,
isso além dos magafafos,
e dos magafagafinhos.


A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia
que a sábia sabia que o sábio não sabia
que o sabiá não sabia que a sábia não sabia
que o sabiá sabia assobiar.


Sabendo o que sei e sabendo o que sabes
e o que não sabes e o que não sabemos,
ambos saberemos se somos sábios, sabidos
ou simplesmente saberemos se somos sabedores.


Se a aranha arranha a rã,
Se a rã arranha a aranha.
Como arranha a aranha a rã?
Como a rã arranha a aranha?


Um sapo dentro do saco
O saco com o sapo dentro
O sapo batendo papo
O papo cheio de vento.




Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Frase do dia

"Não há remédio mais simples que um livro que, se não nos consolar, pelo menos devolve a quietude à mente mais conturbada."

                                                                                               Lady Mary Wortley Montagu (1689-1762)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Folclore: Ditados Populares


A sabedoria de um povo pode ser representada por meio de ditados populares, e aqui colocaremos alguns deles:

Em casa de enforcado não se fala em corda.

Quem não tem cão, caça com gato.

Macaco velho não bota a mão em cumbuca.

Pior cego é o que não quer ver.

Em pé de pobre, todo sapato serve.

Quem diz o que quer, ouve o que não quer.

Gaiola bonita não alimenta canário.

Quem tira retrato de graça é espelho.

Em boca fechada não entra mosca.

Em terra de cego, quem tem olho é rei.

Fonte:  livro  Meu livro de folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.  

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Folclore - Figuras Folclóricas

Bicho-papão

Segundo a tradição popular, o bicho-papão se esconde no quarto das crianças mal educadas, nos armários, nas gavetas e embaixo da cama para assustá-las no meio da noite. Outro tipo surge nas noites sem luar e coloca as crianças mentirosas em um saco pra fazer sabão. Quando uma criança faz algo errado, ela deve pedir desculpas, senão receberá a visita do monstro.
 
 Desde a época das Cruzadas, a imagem de um ser abominável já era utilizada para criar medo nas crianças. Os muçulmanos projetavam esta figura no rei Ricardo Coração de Leão, afirmando que, caso as crianças não se comportassem da forma esperada, seriam levadas escravas pelo melek-ric (bicho-papão).

A imagem do bicho-papão possui variações de acordo com a região. No Brasil e em Portugal, é chamado de “bicho-papão”. Nos Países Baixos, o monstro é chamado de Zwart Piet (Pedro negro), que possui a tarefa de pegar as crianças malvadas ou desobedientes e jogá-las no Mar Negro ou levá-las para a Espanha. Em Luxemburgo, o bicho-papão (Housecker) é um indivíduo que coloca as crianças no saco e fica batendo em suas nádegas com uma pequena vara de madeira.

 Boto cor-de-rosa

Acredita-se que nas noites de lua cheia, próximas da comemoração da festa junina, o boto cor-de-rosa sai do Rio Amazonas, transforma-se em metade homem e metade boto.

Muito atraente e com um belo porte físico, o boto sai pelas comunidades próximas ao rio, encanta e seduz a moça mais bonita. Ele sempre usa um chapéu, leva as moças até a margem do rio e as engravida. Ao engravidá-las, o rapaz volta a ser um boto cor-de-rosa e a moça volta a sua comunidade grávida.


Negrinho do Pastoreio

É uma das lendas mais populares do Brasil, principalmente na região sul. Conta a lenda que um fazendeiro ordenou que um menino, seu escravo, fosse pastorear seus cavalos. Após um tempo, o menino voltou e o fazendeiro percebeu que faltava um cavalo: o baio.

Como castigo o fazendeiro chicoteou o menino até sangrar e mandou que ele fosse procurar o cavalo que faltava. O garoto conseguiu achar o baio, porém não conseguiu capturá-lo, então, o fazendeiro o castigou de novo, prendendo-o em um formigueiro. No dia seguinte, o fazendeiro se deparou com o menino sem nenhum ferimento, a virgem Maria do seu lado e o cavalo baio. Após o fazendeiro ter pedido perdão, o menino nada respondeu, montou o baio e saiu a galope. 



Dama da Meia Noite

Conta a lenda que uma mulher jovem que não sabe que morreu vive andando pelas ruas da cidade. A tal mulher anda sempre com um vestido vermelho ou branco para encantar os homens solitários que bebem em algum bar. É uma alma penada com corpo jovem e sedutor que se aproxima dos homens solitários deixando-os encantados.

A moça rapidamente pede para que o homem a leve de volta para casa e ele, enfeitiçado pela beleza da moça, aceita prontamente. Ao se depararem com um muro alto ela desce e o convida para entrar. Quando o homem solitário percebe que se trata de um cemitério, a moça desaparece e o sino da igreja toca avisando que é meia noite. 
 

Cuca 

 A Cuca se originou através de outra lenda: a Coca, uma tradição trazida para o Brasil na época da colonização. Segundo a lenda, a Cuca é uma velha feia que tem forma de jacaré e que rouba as crianças desobedientes, sendo usado por muitas vezes como uma forma de fazer medo em crianças que não querem dormir.  

Boitatá

A lenda do boitatá foi criada pelo padre José de Anchieta, que descreveu o boitatá como uma gigantesca cobra de fogo ondulada, com olhos que parecem dois faróis, couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas e na beira dos rios. Diz a lenda também que o boitatá pode se transformar em uma tora em brasa, para assim queimar e punir quem coloca fogo nas matas.
 
Quem se depara com o boitatá geralmente fica cego, pode morrer ou até ficar louco . Assim, quando alguém se encontrar com o boitatá deve ficar parado, sem respirar e de olhos bem fechados.
 
Em muitas partes do Brasil a lenda é contada de forma diferente. Em Santa Catarina, por exemplo, o boitatá é descrito como um touro de "pata como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo".  

Iara

A Iara é uma linda sereia que vive no rio Amazonas, sua pele é morena, possui cabelos longos, negros e olhos castanhos. Ela costuma tomar banho nos rios e cantar uma melodia irresistível, desta forma os homens que a veem não conseguem resistir aos seus desejos e pulam dentro do rio. Ela tem o poder de cegar quem a admira e levar para o fundo do rio qualquer homem com o qual ela desejar se casar. Os índios acreditam tanto no poder da Iara que evitam passar perto dos lagos ao entardecer.

Segundo a lenda, Iara era uma índia guerreira, a melhor da tribo, e recebia muitos elogios do seu pai que era pajé.
Os irmãos de Iara tinham muita inveja e resolveram matá-la à noite, enquanto dormia. Iara, que possuía um ouvido bastante aguçado, os escutou e os matou.
Com medo da reação de seu pai, Iara fugiu. Seu pai, o pajé da tribo, realizou uma busca implacável e conseguiu encontrá-la, e, como punição pelas mortes, a jogou no encontro dos Rios Negro e Solimões. Alguns peixes levaram a moça até a superfície e a transformaram em uma linda sereia.
  

Mula Sem Cabeça

A origem da lenda é desconhecida, mas bastante conhecida em todo o Brasil. A mula é realmente uma mula sem cabeça, que solta fogo pelo pescoço, local onde deveria estar sua cabeça. Possui em seus cascos ferraduras que são de prata ou de aço e apresentam coloração marrom ou preta.

Segundo a lenda, qualquer mulher que namorasse um padre seria transformada em um monstro. Dessa forma, as mulheres deveriam ver os padres como uma espécie de “santo” e não como homem, se cometessem qualquer pecado com o pensamento em um padre, acabariam se transformando em mula sem cabeça. Diz a lenda que o encanto somente pode ser quebrado se alguém tirar o freio de ferro que a mula sem cabeça carrega, assim surgirá uma mulher arrependida pelos seus “pecados”.
 

Saci-Pererê

O Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro que originou-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil.O saci possui apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca.

Inicialmente, o saci era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor morena, além de possuir um rabo típico. Com a influência da mitologia africana, o saci se transformou em um negrinho que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia europeia um gorrinho vermelho.

A principal característica do saci é a travessura. Ele é muito brincalhão, diverte-se com os animais e com as pessoas. Por ser  muito moleque, ele acaba causando transtornos, como: fazer o feijão queimar, esconder objetos, jogar os dedais das costureiras em buracos, entre outras coisas.

Segundo a lenda, o Saci está nos redemoinhos de vento e pode ser capturado jogando uma peneira sobre os redemoinhos. Após a captura, deve-se retirar o capuz da criatura para garantir sua obediência e prendê-lo em uma garrafa. Conta também a lenda que os Sacis nascem em brotos de bambus, onde vivem sete anos e, após esse tempo, vivem mais setenta e sete para atentar a vida dos humanos e animais, depois morrem e viram um cogumelo venenoso ou uma orelha de pau.

Lobisomem

O lobisomem é um dos mais populares monstros fictícios do mundo. Suas origens se encontram na mitologia grega, porém sua história se desenvolveu na Europa. A lenda do lobisomem é muito conhecida no folclore brasileiro, sendo que algumas pessoas, especialmente aquelas mais velhas e que moram nas regiões rurais, de fato acreditam na existência dele.

A imagem do lobisomem é de um monstro que mistura formas humanas e de lobo. De acordo com a lenda, quando uma mulher tem 7 filhas e depois um homem, esse último filho será um Lobisomem.
Quando nasce, a criança é pálida, magra e possui as orelhas um pouco compridas. As formas de lobisomem aparecem a partir dos 13 anos de idade. Na primeira noite de terça ou sexta-feira após seu 13º aniversário, o garoto sai à noite e no silêncio da noite se transforma pela primeira vez em lobisomem e uiva para a Lua, semelhante a um lobo.

Após a primeira transformação, em todas as noites de terça ou sexta-feira, o homem se transforma em lobisomem e passa a visitar 7 partes da região, 7 pátios de igreja, 7 vilas e 7 encruzilhadas. Por onde ele passa, açoita os cachorros e desliga todas as luzes que vê, além de uivar de forma aterrorizante.
Quando está quase amanhecendo, o lobisomem volta a ser homem. 

Segundo o folclore, para acabar com a situação de lobisomem, é necessário que alguém bata bem forte em sua cabeça. Algumas versões da história dizem que os monstros têm preferência por bebês não batizados, fazendo com que as famílias batizem suas crianças o mais rápido possível.  



Fonte:  site Brasil Escola (http://www.brasilescola.com/folclore/
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Folclore : Conto de susto


Gaspar, eu caio!

Noite escura no mato. Estrada de terra sem vivalma. O vento gemendo pelos galhos e as nuvens passando nervosas, querendo chover.
            Um homem vem vindo lá longe. Devagarinho. Sem lua nem estrela para iluminar a viagem.
            Vem de sacola pendurada no ombro e, na mão, um pau de matar cobra.
            Trovoada. Os pingos da chuva principiam a cair. O viajante aperta o passo. Na curva, dá com uma casa abandonada. Cai um raio de despedaçar árvore. A chuva aperta. Na porta da tapera tem uma cruz desenhada. O homem não quer saber de nada. Mete o pé na porta e entra.
            Dentro, um pouco de tudo. Pedaços de mobília, tigelas, troços e trecos jogados no escuro.
            O viajante faz fogo.
            Agachado, tira um pedaço de carne da sacola e bota para assar. Está morto de fome. Deita no chão e solta o corpo, esperando a comida ficar pronta.
            A chuva vai minguando. O mato fica quieto. De repente, o telhado range. De lá de cima, um gemido rabisca o ar:
-         Gaspar!
O homem estremece. Aperta os dentes. A luz do fogo é fraca. Não dá para ver nada.
A voz chama e chama.
-         Gaspar!
Já passa da meia-noite. Quem será? A voz insiste:
-         Gaspar!
O viajante pensa em fugir. Mas, e a carne? E o frio? E a chuva ameaçando cair?
Encolhido num canto, o homem arrisca:
-         Quem está aí?
A voz, no telhado, continua grossa:
-         Gaspar!
-         Quem está aí?
-         Gaspar!
-         Quem está aí? – pergunta o homem.
A voz então diz:
-         Gaspar... Eu caio!
-         Pois caia! – responde o viajante.
Estrondo. Espanto. Uma coisa despenca lá de cima – catapram – e cai no chão.
Os olhos do homem crescem de pavor.
É um pé. A ossada de um pé. E vem com os dedos mexendo!
A voz bóia no ar:
-         Gaspar!
O homem treme.
-         Eu caio!
-         Pois caia! – grita o homem de novo.
Catapram. Vem outro pé. Cai e vai se arrastando para junto do primeiro.
-         Gaspar!
O viajante respira curto. A cada resposta sua, desabam do forro pernas, coxas,
tronco, braços e mãos de um esqueleto que vai se formando no chão.
O esqueleto começa a dançar.
A luz do fogo desenha sombras estranhas no casebre.
-         Gaspar! Gaspar! Gaspar!
A voz grossa voa cada vez mais alto.
-         Eu caio!
-         Pois caia! – berra o viajante, sentindo sua hora chegar.
E então – ploct – uma cabeça cai lá do alto.
Meio de medo, meio de raiva, o homem chuta a caveira longe.
O corpo descarnado fica zangado. Pára a dança, agacha e, cuidadoso, enfia o crânio
no pescoço. Depois, lambuza a carne que assa no fogo com seu cuspe escuro.
            O sangue do viajante ferve. Estava morto de fome. A carne era tudo o que havia para comer. O homem cata o pau de matar cobra.
-         Pra mim chega! – De olhos fechados, mergulha sobre o esqueleto dando soco e
 pancada. O morto gargalha. Os dois rolam atracados pelo chão da tapera.
            A luta vara a noite. O homem bate, chora e sangra. O esqueleto range os dentes.
            Os dois quebram tudo, apagam o fogo com o corpo e vão parar do lado de fora, rugindo na lama.
            O tempo passa. Um golpe seco estala no mato. Silêncio.
            O morto suspira e cai.
            O viajante continua de pé, vitorioso. Passa o braço machucado sobre o rosto.
            Do chão, a caveira pede para o homem cavar um buraco no pé de uma árvore.
            O homem responde:
-         Nem nunca!
Em seguida, vai até a árvore e trepa num galho bem alto.
Abatido, o esqueleto pega e cavuca ele mesmo. Tira do buraco fundo um tacho
 cheio de ouro e prata. Depois, olhando para o homem pendurado na árvore, solta um gemido e some no vento.
            O viajante fica onde está. Manhã nascendo no mato. Seu peito mexe com força, indo e vindo. Olha as mãos sujas de sangue. Estrada de terra sem vivalma. A roupa rasgada. O suor. O sol avermelhado sopra uma brisa quente entre as folhagens. O homem sente o corpo doído e leve. Olha a tapera. Tem vontade de rir, cantar, conversar com alguém. Salta aliviado do galho, junta as coisas e vai embora.

Fonte:  livro  Meu livro de folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Folclore: Frases Feitas




Dar nó em pingo d'água.
(fazer uma coisa muito difícil)

Fazer com o pé nas costas.
(fazer algo com muita facilidade)

Deixar a peteca cair.
(desistir, desanimar)

Matando cachorro a grito.
(estar numa situação bem difícil)

Ficar com a pulga atrás da orelha.
(ficar desconfiado)

Tomar chá de sumiço.
(desaparecer, ir embora)

Vá lamber sabão!
(não perturbe, não aborreça, não enche)


Fonte:  livro  Meu livro de folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.
     

domingo, 12 de agosto de 2012

Folclore: Quadras populares

Você me mandou cantar
Pensando que eu não sabia
Pois eu sou que nem cigarra
Canto sempre todo dia.


Eu venho do dá e toma
 E vou para o toma e dá
    Nunca vi dá cá sem toma
   Nem toma lá sem dá cá.

Se o raio não queimou     
Se o gado não comeu      
Em cima daquele morro   
 Tem o capim que nasceu. 


Fonte: livro Armazém do Folclore, de Ricardo Azevedo. Editora Ática.

sábado, 11 de agosto de 2012

Mês do Folclore

Em 22 de agosto é comemorado o Dia do Folclore, e, para comemorar, teremos alguns posts sobre folclore.

Segundo Câmara Cascudo, o folclore é tradição e a tradição é a "ciência do povo".  Para ele, "todos os países do mundo, raças, grupos humanos, famílias, classes profissionais, possuem um patrimônio de tradições que se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume.  Esse patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos diários desde que se integrem nos hábitos grupais, domésticos ou nacionais. Esse patrimônio é o Folclore. Folk, povo, nação, família, parentalha. Lore, instrução, conhecimento na acepção da consciência individual do saber. Saber que sabe. Contemporaneidade, atualização imediatista do conhecimento."


Fonte: http://historiaecultura.pro.br/modernosdescobrimentos/desc/cascudo/cascudoparadescobrir.htm

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Indicação de leitura

A indicação de hoje é da nossa leitora Eva Rodrigues Ferreira.



 Livro: As duas menininhas de azul
 Autor: Mary Higgins Clark
 Editora: Record
 Número de chamada na Biblioteca: 813
                                                               CLA
                                                               Du

                                                               2.ed.
                                              
O livro conta a história das gêmeas Kathy e Kelly, de 3 anos, filhas do casal Frawley. Após a festa de 3 anos das meninas, seus pais saem para jantar e as deixam com a babá, mas, ao voltarem, têm uma terrível surpresa: suas filhas foram raptadas. A empresa em que ele trabalha acaba pagando o resgate, mas apenas uma das gêmeas é libertada, e tudo indica que a outra tenha sido morta. No entanto, uma conexão inexplicável entre as meninas mudará o rumo desta história.
 
 
Opinião da leitora: Maravilhoso, é um livro que prende a atenção até o final. Muito bom, nota dez!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Notícia Interessante - Livraria Ecológica

Retirada do Jornal Maré de Notícias nº 31 (edição de julho de 2012), através do link http://www.redesdamare.org.br/?p=4288



Joga fora no livro!
Projeto pioneiro na Vila do Pinheiro incentiva a leitura por meio da troca de material reciclado por livros
Por Silvana Bahia

O que fazer com latinhas de refrigerante, sacolas plásticas, óleo de cozinha usado e garrafas pets? Existem diversos destinos para esses materiais  depois de usados, mas na Maré, na Vila do Pinheiro, os recicláveis podem ser trocados por livros na Livraria Ecológica. Inaugurada em novembro de 2011, em oito meses de funcionamento, a livraria já distribuiu mais de 90 mil livros.

Aberta de segunda a sexta, de 9h às 17h, a livraria caiu no gosto dos moradores da Maré e de pessoas de diferentes lugares da cidade, segundo Demésio Batista, idealizador e coordenador do projeto. “Vem gente de toda parte da Maré, mas tem muita gente de fora também. Do Parque União,  Salsa e Merengue, Nova Holanda, Bonsucesso, Olaria, Ramos. Recentemente teve um rapaz que viu o nosso blog e veio trocar livros. Ele é professor de arquitetura e mora na Zona Sul, trouxe as latinhas e saiu daqui feliz da vida”, conta Demésio, que há 15 anos monta bibliotecas em  espaços populares.

A ideia de montar uma livraria surgiu do trabalho no projeto Fábrica de Bibliotecas, que teve início no Grajaú. As bibliotecas eram montadas, mas não tinham manutenção adequada. “Montamos bibliotecas em muitos lugares, mas uma vez abrimos uma em Vila Isabel e três meses depois tinha  dias que apenas duas pessoas apareciam. Durante três meses só 18 pessoas foram lá. Percebemos que só abrir a biblioteca por abrir não era legal”,  explica Demésio.

Incentivo à leitura

Incentivar a leitura foi o objetivo principal para a construção da Livraria Ecológica. Por isso, inicialmente, a proposta é fazer com que as pessoas se aproximem dos livros. “O projeto tem a meta de formar leitores primeiro e depois montar a biblioteca. Aqui, futuramente, vai ser uma biblioteca, onde as pessoas poderão ficar para ler os livros ou levá-los. Nós pensamos, ‘se as pessoas não vão à biblioteca, a biblioteca vai até as  pessoas’”, afirma o coordenador.

Os materiais recicláveis, após trocados pelos livros, têm destino certo. As latinhas são vendidas e o dinheiro é usado para abastecer o carro que  busca doações em qualquer parte do Rio de Janeiro. As garrafas pets e as sacolas plásticas são doadas para uma instituição na Nova Brasília, no  Alemão, que as transforma em instrumento musical e móveis, estimulando assim o trabalho em rede.

A Livraria Ecológica também promove feiras de livros nas escolas da prefeitura por meio da parceria com o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds Bairro Educador). Um dos objetivos da livraria é se tornar aos poucos itinerante, para alcançar  um número cada vez maior de pessoas.

A primeira cliente da livraria foi dona Marli Faria, moradora da Vila do Pinheiro desde que a favela existe. Trabalhou durante 10 anos alfabetizando alunos através de um projeto promovido pela igreja católica. “Sou professora e sempre gostei muito de ler. Assim que abriu,  comecei a frequentar a livraria. Acho uma iniciativa ótima, principalmente para as crianças que abraçaram o projeto”, comenta dona Marli, que já  trocou mais de 20 livros.

Crianças e adolescentes adoram

O público que frequenta a livraria é de todas as idades mas, sem dúvida, as crianças e os adolescentes são os principais frequentadores. Na hora da  saída das escolas na Maré, a livraria fica lotada. Demésio acredita que a troca estimula e valoriza o contato com os livros. “Se as pessoas entrassem  aqui e levassem o livro sem trocar nada, não daria certo, porque elas não teriam aquele prazer de comprar o livro. Por ser uma troca, as pessoas  dão mais valor. É como se o material reciclável fosse uma moeda. Tem criança que chega aqui com a bolsa cheia de latinha e troca tudo por  livros”, conta.

Sempre bastante frequentada por jovens, assim que foi inaugurada, dois adolescentes, em especial, chamaram a atenção de Demésio pela quantidade de livros que trocavam. O que ele veio a descobrir depois é que os dois estavam montando uma pequena biblioteca infantil em casa,  que é aberta depois da escola, onde eles se reúnem com outros amigos para rodas de leitura.

Patrícia Valéria Guimarães, professora em duas escolas na Maré, considera a iniciativa maravilhosa, que contribui de forma decisiva para a formação dos jovens. “Eles correm atrás das latinhas para trocarem por livros. Inclusive os pais já comentaram que estão muito felizes porque as crianças estão lendo mais”, comenta a professora, que acredita que quanto mais doações a livraria receber melhor será para quem a frequenta.

Rosinaldo Sales, morador da Maré há mais de 40 anos, descobriu a livraria andando pela favela. Estudante do curso de Direito, disse que a Livraria Ecológica é essencial para seus estudos. “Têm livros aqui que custariam de R$ 80 a 100 nas livrarias e aqui eu consigo trocar por uma pet”, entusiasma-se o estudante.

A Livraria Ecológica fica na Avenida canal 1, nº 85 – Vila do Pinheiro, e funciona de e 2a a 6a das 9h às 17h.
livrariaecologicadobrasil.blogspot.com.br

Para doar livros fale com o Demésio
Tels: 3868-3342 / 9939-5332
ipam.mare@yahoo.com.br

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Indicação de livro

A indicação de hoje é do nosso leitor Washington Rabelo (twitter: @washingtonrabel)


 Livro: O ciclista
 Autor: Walter Moreira Santos
 Editora: Autêntica
 Número de chamada na Biblioteca: B869.3
                                                               SAN
                                                               C
                                              
É um livro sobre a beleza do perdão, da esperança e da compaixão.
Opinião do leitor: Seus escritos (do autor) são de um lirismo fantástico.

Ler é...


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Dica do Projeto Cineclube nas Escolas

Mostra 100 Anos de Jorge Amado: O Romance, a Bahia e o Cinema

De 7 a 12 de agosto acontece na Caixa Cultural do Rio de Janeiro a Mostra 100 Anos de Jorge Amado: O Romance, a Bahia e o Cinema. O evento é uma homenagem aos 100 anos de nascimento de um dos mais importantes autores nacionais.
Serão exibidos mais de 10 filmes, entre longas e curtas-metragens, ficções e documentários, além da realização de palestras sobre o processo de transposição da poesia de Jorge Amado para as telas dos cinemas, com participação de Cacá Diegues, Guy Gonçalves e mediação de Rodrigo Fonseca..

Segue a lista de filmes que compõem a mostra:
 - Tieta do Agreste, Cacá Diegues
 - Meu adorável Fantasma – Kiss me Goodbye, Robert Mulligan -baseado no livro Dona Flor e seus dois maridos;
 - Dona Flor e Seus Dois Maridos
 - Tenda dos Milagres, Nelson Pereira dos Santos
 - Jubiabá, Nelson Pereira dos Santos
 - Casa de Rio Vermelho, de
 - Jorge Amado, João Moreira Salles
 - Capitães de Areia, Cecília Amado
 - Capeta Carybé, Agnaldo Siri Azevedo
 - Jorjamado no Cinema, Glauber Rocha
 - Quincas Berro D’água, Sérgio Machado

 Onde: Caixa Cultural do Rio de Janeiro
 Av. Almirante Barroso, 25 - Centro -  Tel: (21)3980-3815
 Ingresso: R$2,00 inteira / R$1,00 meia